Bastou uma revista de circulação nacional divulgar que um robô foi desenvolvido para fazer transplantes de cabelos que já estão chegando inúmeros e mails com dúvidas a respeito. Antes de saírem correndo atrás de mais uma novidade vamos entender melhor essa estória. O nome FUE -Follicular Unit Extraction (extração folicular unitária) tem sido cada vez mais divulgado por algumas clínicas de transplante de cabelos em todo mundo.Trata-se de um conceito interessante e lógico pois extrai as unidades foliculares ( enxertos com 1 a 3 fios de cabelos) do couro cabeludo sem a necessidade da clássica cicatriz resultante dos transplantes de cabelos convencionais. A FUE,entretanto, se mostra um canto de sereia no tocante a ausência de cicatrizes . Após múltiplos procedimentos a área doadora ficará rarefeita, pois os cabelos retirados não se regeneram. Serão centenas ou milhares de microcicatrizes. Nesta imagem tirada da internet vemos muito bem que de onde foram retiradas as unidades foliculares a perda de volume ou densidade é nítida. Dali não vai mais crescer cabelos.
A técnica clássica,STRIP,quando bem executada deixa apenas uma cicatriz linear,fina e delicada,facilmente coberta pelos cabelos,mesmo curtos. O ganho de transplantes por procedimento FUE é muito inferior quando comparado a técnica convencional.Enquanto uma cirurgia pela técnica STRIP permite retirar entre 3000 a 4000 unidades foliculares – UF – ( média de 6000 a 8000 fios de cabelos),na FUE manual chega-se a 500 a 800 UF no mesmo tempo cirúrgico,com um índice maior de perda. O índice de perda de cabelos é muito grande na técnica FUE devido a transecção das raízes,pelo fato de ser um procedimento feito”às cegas”.Vejam nas fotos e desenhos abaixo que os cabelos não são paralelos e quando a máquina robô ou mesmo quando feita a retirada manual ,uma grande quantidade de folículos são destruídos ou nem mesmo vem junto com as hastes de cabelos.
Este índice de perda de cabelos na FUE oscila em torno de 30% em cabelos lisos e retos e aumenta quando os cabelos são mais crespos ou que crescem de forma não paralela. Na foto abaixo vemos o que o robô é programado para “ver”,ou seja,ao raspar os cabelos,dos poros emergem os pontos pretos das hastes de cabelos e é ali que a máquina vai inserir o “punch” de extração:que vai retirar o enxerto,mas por não serem todos paralelos alguns cabelos terão folículos naquele local e outros não.
Outro problema é que o paciente se vê obrigado a raspar a cabeça a cada procedimento.
A maioria das clínicas que usam o procedimento FUE fazem 3 a 4 cirurgias num curto período de tempo para obter uma boa densidade ao passo que na STRIP conseguimos grandes volumes em apenas um procedimento. O custo por procedimento é muito maior na FUE.
Na técnica STRIP as Unidades Foliculares são artesanalmente separadas com índice de pega em torno de 100%…sem desperdícios.
Portanto,apesar dos robôs trazerem essa questão da “modernidade” e comodismo para o cirurgião,nem sempre é o melhor para os pacientes.
Dr. Milton Peruzzo